quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Casa de poeta





Eu sei escrever, sempre soube,
Mas nunca tive onde
Poder deixar a azul
Marca da minha caneta de pena,
Que de tanto ter esperado
Para estriar a minha bela tinta
No papel de um poeta
Secou e perdeu a vida
Que toda uma existência esperei,
Para que ela pode-se trabalhar.

O meu mundo é feito
De belas palavras com sentido,
O meu mundo é a estrofe
A minha casa é o verso
Cada um de nos
Tem vida devido à
Palavra de quem todos
São filhos, a palavra mãe
Da nossa esperança
A palavra que originou
O nosso ser, a nossa misteriosa
E estranha aparição
A palavra «vida» que,
Um dia eu, o poeta
Decidi escrever e partilha
Com todos, e todos juntos
Criamos o nosso universo
Todos juntos formamos o poema.




Foi uma bela história de amor
Um amor ardente
Que durou tanto tempo, que
Passou a nada, não sei como,
Lembro-me do tempo
Em que me dizias
«Cara tão bela
Não deve derramar
Lágrimas de lamentos»
O mesmo me dizias
Noites e dias
Sempre sem te cansares
Sempre que precisei
Tinhas o teu caloroso
Para eu limpar as minhas lágrimas
Hoje esse amor tão doce
Passou a ser um ódio amargo

Sem ti ando se rumo
A minha vida,
Antes era um dia de verão
Quente e luminoso
Agora é uma noite de inverno
Gelada e escura
Tu és tudo para mim
E agora já não te tenho.

Só sei que sonho





Não sei o que é o sonho
Só sei que sonho
Sonho com um mundo melhor
Com espaços verdes
Nos grandes centros urbanos

Não sei como sonho
Só sei que sonho
Mas onde eu vivo, no meu mundo
Sonhar é um pecado,
Um grande erro punido,
Mas não quero saber
Sonho aqui e ali
Em qualquer lugar
Não sei se sonhar
É uma virtude ou um defeito
Só sei que sonho

Se for um defeito
Prefiro viver desse jeito
Sonhar deve se um direito
É uma das maiores proezas da vida
Não quero saber de virtudes ou defeitos
Só quero saber do sonho
Só sei que sonho

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

~



Todas as pessoas têm objectivos e têm sonhos que as mantêm vivas, vivem para os alcançar, e mesmo que os atinjam mais cedo do que o planeavam ainda lhes resta uma razão de se manterem vivos, é o simples gosto de poder viver, o doce e agradável sabor de viver.
Comigo é diferente, não tenho sonhos nem metas para alcançar, não tenho prazer em viver. S, não ou somente um cobarde que nada faz para terminar com a sua agonia e conhecer a felicidade. Sou apenas um espectador da vida não interajo com ninguém, ninguém faz um pequeno esforço para me conhecer, ninguém me dá algo pelo qual valha a pena lutar, pelo qual valha a pena apreciar a vida
Só tenho um desejo que, provavelmente, me faz recuar sempre que tento desaparecer sem deixar rasto, possivelmente é a única coisa que me prende a minha inútil existência repleta de agonia, desejo encontrar a pessoa especial que existe para completar o meu ser incompleto, quero completa-la, quero que ela me ensine a ver o sofrimento no qual a minha vida se tornou, numa vida com felicidade, ou que faça com que o meu sofrimento deixe de doer.
Não é um objectivo nem um sonho, é unicamente o fraco desejo de uma pobre e inútil alma que não é capaz de encontrar a pombinha branca com o pequeno raminho verde no seu belo e delicado biquinho.

sábado, 3 de dezembro de 2011

        Solidão


 

Num mundo de pessoas
Estou só
Onde todos se vêem
Ninguém me vê
Como todos se compreendem
Não sei, é um mistério
O que eu sei é…
Que estou só
Sei também que…
Ninguém me compreende
Onde todos tem pais
Eu não. Estou só
Todos têm dinheiro
Eu não, vivo sem ele.

As crianças que passam
Perguntam-me:
«Não tens pais,
Não tens casa,
Não tens amigos?
Então vai-te embora!
Não pertences aqui»
E eu digo a todos
«Não, eu tenho pais
Tenho casa, tenho amigos
Mas sou diferente de vos
Os meus pais são o vento
Que todas as noites me
Canta canções de embalar,
A minha casa é a floresta
Que todas as noites me
Aquece nas suas grutas acolhedoras
Os meus amigos são os animais
Que todas as noites e todos os dias
Estão comigo para me
Fazerem companhia.
Estou apenas de passagem,
E nada mais»

Fui posto de lado
Chamaram-me de solitário
Ma só porque não sabem
O que é a verdadeira companhia
As pessoas são falsas
Os animais verdadeiros
As pessoas acolhem os seus filhos
Somente porque são seus filhos
A floresta acolhe todos
Amigos ou inimigos dela
Ela esta sempre lá para os acolher
As pessoas cantão unicamente…
Para terem dinheiro
O vento canta de felicidade
Para pôr todos alegres

Segundo os outros
Eu estou só, mas…
Prefiro a minha solidão alegre
À companhia enfadonha dos outros
A minha solidão é-me leal
A companhia dos outros e traiçoeira
Sou feliz como sou
Estou só e bem acompanhado
Estou só, só com a natureza.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

    Mundo escuro


            Passou mais um dia, e eu continuo imerso na minha escuridão.
            O mundo que só eu vejo é frio e solitário, tudo á minha volta é de tamanha negridão que só eu sou capaz de aqui residir, de aqui marcar território.
            Neste universo paralelo não existe nada, não existe cor, não existe fragrâncias, não existe som, aqui nada subsiste, a não ser o meu corpo, aqui não existe formas de vida a não ser a minha insignificante presença, não existe sentimentos, a não ser a minha banal sensibilidade à tristeza e à solidão, não existe dor, a não ser a minha, que se torna mais e mais insuportável a cada segundo que passa.
            Todos os dias que correm, penso que é uma questão de tempo até que tudo o que está à minha volta me engula sem um único aviso, sem um único sinal prévio, mas todos os dias que passam penso que esse momento nunca chegará, penso que fui condenado a uma vida eterna e solitária, num local imensamente vasto, onde viverei a minha eterna perdição.